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Mostrando postagens de 2006

A síndrome do chifrudo imaginário

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“O que faz o homem se sentir corno sem ser?”, disparou a aluna, atendendo ao meu clamor por uma pauta para o Boteco. Estupefato, eu, que jamais passei por essa situação de me sentir corneado – e fique aqui você, leitor, atormentado pela incerteza se falo ou não a verdade, até porque um homem com H jamais admite sequer a iminência de um par de chifres pesando-lhe a cabeça – resolvi atender ao pedido dela, mesmo por preocupação... E os homens se sentem cornos sem ser? Eu, particularmente, não. Até porque, como diz a lei do mundo da cornália, só é corno que sabe que é. Portanto, como nunca soube, fico de fora das estatísticas dos cornudos, pelo menos por enquanto. Mas, se apesar de ainda não acompanhar esta revolução no psíquico masculino, acredito no protesto das mulheres – acaba de me chegar uma outra estudante aqui dizendo “Eita! Essa pauta é boa mermo! Esses fio da peste sempre acham que tomaram gaia!” –, acabo por começar a escrever, imaginativamente, é claro, quais motivos levam um

A Era do ApoCalypso

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Já não agüento mais. Depois de tentarem me obrigar a botar a mão no joelho e dar uma abaixadinha, agora querem que eu saia me esfregando em praça pública, feito um animal irracional - puro instinto -, ao som de um pequeno punhado de notas repetidas num teclado qualquer. É. Definitivamente, não sou arrocheiro... Se é que é assim que se nomeiam as pessoas que gostam deste barulho, deste... desta balbúrdia musical. Enfim, deste troço inaudível que toca nas FMs, nos botecos, nas feiras, nos carros dos playbboys - atitude perdoável, visto que estes acéfalos nada conseguem fazer além de serem condicionados a reproduzir o que a mídia lhes impõe. Literalmente, não dá mais para viver na terra do arrocha, da música brega, daquelas batidas repetidamente insuportáveis do funk carioca - batidas estas que, se deflagradas na década de 60, serviriam muito bem às Forças Armadas como instrumento de tortura contra os descontentes com a ditadura militar. Quero ir embora. Quero ir a um lugar onde não tenha

Henfil por todos os buracos, mas quem disse que adianta?

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Colaboração de Anderson Ribeiro Um dia a humanidade se salva, quero crer. Como se salvaram a obra e o apelo político dos cartuns de Henfil e a preservação de sua memória através dos tempos idos. Aí você deve estar se perguntando: por que tanta exaltação? Ora, explico: para alguns colegas jornalistas, o irmão do Betinho está tão vivo quanto a eterna esperança de dias melhores e justiça social do povo brasileiro, percebidos também nos traços do Henfil. A nobre repórter de TV sergipana levou a máxima ‘está vivo’ tão a sério, que esperou para uma exclusiva com o cartunista sobre sua exposição na Biblioteca Pública Epiphânio Dória, em Aracaju. Ué, Como assim? Não entendi! Calma, o Circuito Henfil aportou pela terra dos cajus e a ínclita colega foi fazer a cobertura do evento. O problema é que o artista a deixou de molho. Uma falta de respeito mesmo do Henfil não conceder uma entrevistazinha a TV. Êpa! Ninguém sabe ainda quem é, quase digo. Apesar dos protestos da espírita-jornalista ele não

Cantoria Chuverial Descomedida, a maldição do milênio

“ O l ha l á á q u e m v e e e m do lado o p o o o s t o e v e m sem g o o s t o de vive e er O lh a l á á q u e os br a a a a a vos são escr a a a avos sãos e sa aa aa lvo s de s o fr er O lha l á á quem a a cha que p er der é s e r m en o r na vida a a Olha l á á quem s e m pre quer vit ó ó ó ria e perde a gló ó r ia de chor a a a a a aa ar ” Este é o meu primo Eduardinho, cantando no banheiro do seu apartamento, em Salvador. Ele é um dos tantos e tantos cidadãos brasileiros acometidos pela Cantoria Chuveiral Descomedida – CCD –, um mau que assola o país. Bem mais que o câncer ou a aids. Bem mais que a desnutrição ou a seca. Talvez até, bem mais que a corrupção e os cambalachos dos nossos políticos, ora travestidos de salvadores da humanidade e pedindo, encarecidamente, o meu, o seu, o nosso voto, quando não, se antecipando em pagar pela preferência dos eleitores compráveis. Talvez até, bem mais que o tráfico de drogas e os mandos e desmandos do crime organizado. Enfim, uma d

O PM, o trabalhador e a mãe do bandeirinha

Se a máxima “Deus ajuda a quem cedo madruga” fosse de fato veraz, meu amigo Etevaldo Dória já teria ganhado na mega-sena, ainda que sem comprar o bilhete. Acostumado a ficar de pé, todo santo dia, em sincronia com primeiro sussurro do galo da madrugada, “Théo”, como gosta de ser chamado – e ai daquele que escrever seu nome sem o “h” –, sai pra trabalhar quando cerca de 90% das almas brasileiras ainda estão vagando despregadas das carapaças de carne e osso. Mas, como bem antes de decretar a ajuda aos “despertadores humanos” Deus encasquetou com a idéia de que, pelo menos no Brasil, o trabalhador tem de ser pisoteado, torturado, humilhado publicamente, desdenhado, enxovalhado, açoitado, massacrado e etc., num é que Etevaldo e todo o seu labor quase foram parar no xilindró um dia desses? Simplesmente porque um dito sargento da Polícia Militar invocou que o meu amigo – logo ele, que tanto sua pra pagar seus impostos – estava a perturbar a ordem pública e deixar as famílias sergipanas em si

O amor entre o aracajuano e a porta do buzu

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O calvário para todo brasileiro pé-rapado que precisa do transporte coletivo para tocar a vida é praticamente o mesmo em qualquer ponto do país: preço abusivo da tarifa, ônibus superlotados, iminência de assalto e até mesmo os ataques de ovo goro que a molecada arma contra o buzu, sem dó nem piedade (eu mesmo perdi as contas de quantas “bolas brancas” arremessei contra as tantas janelas da minha infância em Alagoinhas, junto ao meu amigo Caatinga, parceiro de planos maquiavélicos e infalíveis). Mas em Aracaju o calvário de um pé-rapado para se locomover tem lá suas peculiaridades. A mais rotineira delas é estranhíssima: o aracajuano adora a porta do meio do ônibus. É uma paixão avassaladora! Uma fixação doentia! Uma adoração sacra! Quem trafega de ônibus pela capital sergipana e ainda não foi acometido por esta atração fatal não deve, portanto, espantar-se ao perceber que, enquanto as pessoas se amontoam em frente à porta do meio do buzu, o fundo do carro permanece vazio. Afinal de con

Gordinho enlatado? NEM MORTO!

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Está cada dia mais difícil ser gordo nesta ----- de mundo estereotipado. Como se já não bastassem as espremedoras roletas de ônibus e terminais, as poltronas apertadas, os preços abusivos dos produtos dietéticos – artifícios para os fofinhos inconformados que precisam sair da crise existencial –, agora somos obrigados a andar pelas ruas com roupas apertadinhas, parecendo sardinhas na lata. Assim, não tem obeso que agüente, caramba! Nós, os gordinhos, somos heróis natos. Mesmo antes de darmos os primeiros passos ou falarmos as primeiras palavras, já aprendemos a enfrentar as agruras proporcionadas pelos quilinhos a mais.. entre elas, as piadinhas e os apelidos que, acreditem, nos perseguem por toda a vida. De “bochechudinhos” nos primeiros cinco, seis anos de existência, passamos a ser tachados como rolhas de poço; baleias; elefantes; hipopótamos, free willys; cocôs de dinossauro; bujões de gás; modelos da Butano... e, ainda assim, conseguimos – entre lágrimas escondidas e sorrisos amar

Eu não mordo travesseiro!

Os mordedores de travesseiro que me perdoem, mas não sou homossexual. E não digo isso em tom pejorativo ou, muito menos, preconceituoso. Respeito os homens que têm desejos sexuais por outros homens e até admiro os assumidos, aqueles que, no quesito “coragem pra encarar a nossa sociedade hipócrita”, são infinitamente mais machos do que eu ou qualquer outro hetero que se preze. Talvez até disponham de um culhão a mais no saco, quem sabe? Não serei o cientista a fazer essa constatação. Mas, apesar de não possuir trejeitos femininos – pelo menos, acredito que não – e de jamais ter me deparado com o desejo de sentir um barbudo fungando ao meu cangote e arranhando-me o pescoço com a barba mal feita, fui rotulado como sendo “do babado”, por um jornalista sergipano, amigo de uma outra colega de profissão. Detalhe: ele é homossexual e baseia o seu argumento no fato de eu andar com amigos homossexuais. Assim como ele. Pensamento retrógrado o desse pobre rapaz... Numa época em que as mulheres já