Nem todo soco no Santa Maria é violência
Foto: Portal Infonet
Mirele tinha tudo para engordar as estatísticas do desemprego ou mesmo da Secretaria de Segurança Pública. Tinha tudo para ser mais um ser humano algemado e de olhar voltado para o chão, exposto nas páginas policiais. Filha de um ex-presidiário e uma alcoolista, conviveu com a violência desde cedo, dentro de casa. Pediu esmolas, passou oito anos da sua infância em um orfanato – sem receber uma visita da mãe –, depois viu sua residência incendiada por bandidos. Acabou no Morro do Urubu, ao lado dos pais e de sete irmãos, num casebre sem água encanada, que, literalmente, não tinha teto, não tinha nada. Mas nem de longe era engraçado como a casa do Vinícius de Morais.
Há cerca de três anos Mirele procurou o Punhos de Ouro, projeto social tocado no bairro Santa Maria pelo ex-pugilista Valter Duarte e que tem como objetivo retirar crianças e adolescentes do mundo do crime, das drogas, dar a eles a chance de escrever um futuro diferente do que vivenciam em seu cotidiano. Cansada de ver a mãe ser agredida pelo pai, Mirele calçou as luvas pela primeira vez com sede de vingança, mas Duarte percebeu o potencial da jovem e direcionou os jabs e cruzados em favor do boxe e contra a violência que tanto a perseguia.
Agora, pela Seleção Brasileira, Mirele prepara-se para disputar competições importantes como o Panamericano no Canadá e o Mundial em Barbados. Dá um gancho à la Mike Tyson na fuça dos governantes, mostra que o Santa Maria tem muito talento a ser descoberto, que a cidadania é também uma questão de oportunidades. E não é que muitas vezes essas oportunidades estão em investimentos e gestos simples como um ringue, alguns pares de luvas e gente com vontade de mudar a realidade social?
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Bj,
Vivi