Chorume da desigualdade
O chorume da desigualdade escorre pelos morros e encostas; encrua nas paredes incertas de barracos que ainda resistem, a muito custo, ao temporal; encharca os escombros das mansardas que, apesar de tão modestas, serviam – quando erguidas – como lares para milhares de cidadãos. Em ruínas, os casebres soterram toda essa gente que viveu a doar sangue e suor para construir o teto que, ironicamente, desaba sobre suas cabeças.
Durante anos e anos, enquanto arriscavam a vida em locais insalubres para edificar o sonho da casa própria, homens e mulheres, hoje gélidos e sorvidos no odor do descaso, jamais despertaram o real interesse dos governantes. Agora, que há muito mais sangue que suor no chorume e incontáveis crianças putrefeitas por ali, somente agora, depois de encoberto por restos de madeirite, Eternit, cimento de quinta, esse povo consegue suscitar a compaixão que jamais suscitou quando em vida.
É a prova de que a política brasileira se alimenta mesmo do chorume, seja na grande Rio de Janeiro – onde até o momento mais de 230 mortes já foram contabilizadas, sem contar o número de desabrigados; seja na pequena Aracaju, onde quase três mil pessoas já se viram obrigadas a deixar suas casas. Tanto lá quanto cá, o líquido fétido que também mistura dejetos e atrai animais peçonhentos é o regurgitar natural de políticos inertes e descompromissados.
Favelas crescem em lugares descabidos, arriscados. E que governante não se dá conta? Que governante é incapaz de enxergar os ‘presépios’ que circundam as capitais? Perguntas tolas as minhas. Mais fácil que implementar políticas sociais e impedir a morte de tantos é voltar os olhos para a miséria e fazer qualquer negócio para acomodá-la a baixo custo, sem que avance tanto o espaço das classes média e alta. Pobre no morro do Padre Pedro vale. Na 13 de julho, não. Pelo menos até que venha um novo 'representante do povo' e o bastão da irresponsabilidade seja mais uma vez repassado sem pudor e, é claro, com aquela sensação de alívio, digna de quem se deparou com a enxurrada da desigualdade e, simplesmente, preferiu deixar a água correr, esperar o temporal passar. E, porque não, colocar a culpa na chuva e nas invasões.
Durante anos e anos, enquanto arriscavam a vida em locais insalubres para edificar o sonho da casa própria, homens e mulheres, hoje gélidos e sorvidos no odor do descaso, jamais despertaram o real interesse dos governantes. Agora, que há muito mais sangue que suor no chorume e incontáveis crianças putrefeitas por ali, somente agora, depois de encoberto por restos de madeirite, Eternit, cimento de quinta, esse povo consegue suscitar a compaixão que jamais suscitou quando em vida.
É a prova de que a política brasileira se alimenta mesmo do chorume, seja na grande Rio de Janeiro – onde até o momento mais de 230 mortes já foram contabilizadas, sem contar o número de desabrigados; seja na pequena Aracaju, onde quase três mil pessoas já se viram obrigadas a deixar suas casas. Tanto lá quanto cá, o líquido fétido que também mistura dejetos e atrai animais peçonhentos é o regurgitar natural de políticos inertes e descompromissados.
Favelas crescem em lugares descabidos, arriscados. E que governante não se dá conta? Que governante é incapaz de enxergar os ‘presépios’ que circundam as capitais? Perguntas tolas as minhas. Mais fácil que implementar políticas sociais e impedir a morte de tantos é voltar os olhos para a miséria e fazer qualquer negócio para acomodá-la a baixo custo, sem que avance tanto o espaço das classes média e alta. Pobre no morro do Padre Pedro vale. Na 13 de julho, não. Pelo menos até que venha um novo 'representante do povo' e o bastão da irresponsabilidade seja mais uma vez repassado sem pudor e, é claro, com aquela sensação de alívio, digna de quem se deparou com a enxurrada da desigualdade e, simplesmente, preferiu deixar a água correr, esperar o temporal passar. E, porque não, colocar a culpa na chuva e nas invasões.
Comentários
Bj
Parabéns por tão sábias palavras, meu querido!
Uma excelente semana pra ti!
Abraços mil, Sy