Gordo na academia


A pior sensação do mundo é a de um gordo dentro de uma academia. Eu garanto. E não por que nos sentimos – nós, os fofinhos – ridicularizados, fora dos padrões e tal. Na verdade, sabemos que estamos longe dos padrões da estética da moda, dessas futilidades, bem como dos parâmetros de uma boa saúde – e é isto o que, atrelado à falta de tempo para a prática de esportes, nos leva a academia.
O que quero dizer, sem qualquer sintoma de complexo - e todo gordo que sente isso na pele há de concordar comigo – é que, naquele ambiente criado para o levantar e puxar de pesos, para o enrijecer de músculos, somente nós, os cinturinhas de ovo, parecemos normais, parecemos humanos.
Mulheres gostosonas, caras saradões e a gente ali no meio, feito alienígena, à procura de um outro alguém comum, recheado de estrias e celulites, que possa bater um papo sadio no plano das idéias, mas não discuta necessariamente a busca pela perfeição do corpo, suplementos alimentares, dietas, medidas e pesos, esses assuntos chatos que nenhum gordo suporta.
Perambular por este antro de músculos e deserto de gente na essência da palavra é torturante para qualquer obeso. Eu mesmo me sinto só. Estou matriculado na academia por recomendação médica, mas sou indisciplinado. Nem sempre vou e, quando o faço, já chego com vontade de ir embora. A cada exercício, os minutos se arrastam no compasso daquele som insuportável que, dizem, é próprio para academia: “tu-tsi-tu-tsi-tu-tsi-tu-tsi” na cabeça por cerca de uma hora, e quando não é isso, é axé music. Eu peço arrego!
Mas acho que faz parte do processo. Afinal, quem vai à academia, pelo visto, vai para contar, suar, queimar calorias, executar movimentos compassados e cansativos. Não vai para se preocupar com melodias ou coisas do gênero. Não tem tempo nem clima para apreciar um jazz ou uma música clássica.Talvez por isso, os aparelhos também não exijam nada além do esforço repetitivo e condicionado. Para fugir um pouco à regra, quando estou malhando, procuro pensar em outras situações para o tempo de tortura passar mais rápido. Como, por exemplo, os cafés da manhã aos domingos, no mercado central de Aracaju, na companhia de grandes amigos como o Cristiano Prado. Bom papo regado a macaxeira, cuscuz, inhame, ovo frito – famoso bife do zoião ou disco voador –, carne frita, do sol, de carneiro... Ah, se este exercício emagrecesse e mantivesse a saúde em dia!

Comentários

joão áquila disse…
Jazz ou uma música clássica? Eu não gosto das músicas de academia, mas querer jazz ou uma música clássica em academia é o mesmo que pedir a políticos cuidarem dos pobres.

Oh Álvaro Müller!
Anderson Ribeiro disse…
Pois é Müller, hei de concordar com o Áquila. Mas que é um saco, isso é sim. Aguentar aquele povo se olhando pro espelho mais do que mulher se preparando pra balada... é o fim.
Olá Alvinho!!!

Valeu!!!!estou me sentindo menos só!!! e adorei as suas referências no final!!!!
Medeiros disse…
Os apolíneos corpos são a tônica da época em que vivemos. É a nossa merda, já que é neurose e não objetivo. Contudo, não mexer o esqueleto e as carnes, eis o que é de verdade proibitivo, meu irmãozinho glutão. Por que a picanha e a ambrosia têm de ser a desgraça da nossa dieta fundamental? É sádico quase. Comer tudo e todas, eis a felicidade (antropofágica). E quem há de negar?
Débora disse…
rapaz, mande eu ir me arrombar, mas não me mande ir pra academia não..
Anônimo disse…
É querido, mas tem pior ! Esta semana assistindo uma palestra de qualidade de vida no serviço público, o palestrante dizia que muitas vezes procuramos valvulas de escapes (agora tem este nome),eu falei, ja que estou ansiosa, como 3 acarajés toda noite , fazer o que ??? Agora me imagine na Academia ???
Álvaro Müller disse…
À ansiosa dos três acarajés, sugiro dois acarajés e um abará. À Engracia, quando quiser ir ao nosso café, está convidada. E ao Ribeiro e o Áquila, eu de fato corroboro com vocês no texto. Tanto que está lá: "não tem tempo e nem clima para apreciar um jazz ou uma música clássica". A intenção foi apenas mostrar o lado mecânico da academia, que não nos permite distinguir uma música boa, da ruim. Eu geralmente levo meu radinho e malho ouvindo a resenha esportiva. rsrsrs. Abraços a todos!
Anônimo disse…
Álvaro,
Adorei a descrição....também detesto academia...malhação...musculação...enfim esforço físico não é comigo...Mas amigo, cheguei a conclusão que é uma mal necessário...Por isso, mesmo morrendo de preguiça tento ir pelo menos 4 vezes ao mês....rsrsrsr
tatiana hora disse…
eu estou correndo quase todo dia, quando enjoar vou fazer dança, kung fu, sei lá, mas não volto à musculação não, porque eu NÃO SUPORTO aquelas músicas que eles botam pra tocar. haja paciência.
e outra, levantar peso é um saco. e andar na esteira é neurose pura.
laurita cabral disse…
HAUhahAHA.. POSSO DIZER POR EXPERIENCIA PROPRIA Q ISSO É FODA!
eu me sinto um lixo...e parece q td mundo ta te olhando e rindo(e realmente estão)...

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