Quero ser médico do Detran!
Álvaro Müller*
Excelentíssimos e intocáveis senhores ministros do Supremo Tribunal Federal: eu quero ser médico do Detran. Cansei, sabe, dessa vida corrida e mal paga, dessa lida de mestre-cuca das palavras, a burilar a receita da informação de qualidade para a construção da cidadania. Eu?! Quero mesmo é ficar rico sem trabalhar e sem estudar. E se o jornalismo não precisa de diploma – de acordo com a decisão dos senhores –, porque diabos o médico do Detran precisa?
Ano passado renovei a habilitação e fui obrigado a passar por todas as etapas desse engenho de emprego, renda e, sobretudo, dinheiro para os cofres públicos chamado Detran. Dentre os procedimentos, óbvio, fui submetido a bendita consulta médica. Processo rápido, eu e um ‘doutor’ de aparência jurássica e cara de desdém. Coisa de dez, quinze minutos ou menos.
Você fuma? Não. Bebe? Finais de semana. Usa drogas? Só cerveja. Tem problema de pressão? Não. Toma remédio controlado? Também não. Tem histórico de cardíacos na família? Não. Já fez alguma cirurgia? Já. Onde? No joelho. Hum... deixa eu ver sua pressão.... Parabéns, você está apto. Obrigado (filho da p...).
Confesso, respeitáveis e incontestes ministros, que saí do consultório me sentindo lesado. Afinal, paguei para me avaliar. E fiquei mais fulo ainda quando descobri que a prova teórica oferece questões de primeiros socorros dignas de um concurso para o Samu. Agora tá bonito... Enquanto o médico do Detran mede pressão – e com aparelho eletrônico, que fala por si –, eu tenho que dizer se devo ou não colocar uma vítima de acidente em posição de decúbito dorsal e o escambau. Tá certo isso, tá?
Nenhum exame me foi pedido e sequer fiz o famoso teste das vistas, aquele em que você repete insistentemente as letras do quadro em voz alta, feito abestado. Um absurdo. Imaginem os senhores, até minha mãe, que acaba de passar por cirurgia plástica para a retirada da pele que praticamente lhe encobria os olhos, teria deixado o Detran de carteira nova, apta a dirigir mesmo sem enxergar a um palmo do nariz.
É por isso, veneráveis ministros do Supremo Tribunal Federal, que eu peço encarecidamente: me deixem ser médico do Detran! Já trabalhei demais nessa vida! E, humildemente, faço uma sugestãozinha de nada, de um simples mortal: se o país está sem grandes problemas e a exigência de diplomas é prioridade na pauta do STF, os senhores bem que deveriam ter acabado a obrigatoriedade do diploma para médico do Detran primeiro, né? Ministros, pelo amor de Deus, a disseminação de informações de má qualidade compromete a construção da cidadania, mas uma ruma de gente dirigindo sem enxergar compromete a vida.
*Álvaro Müller é jornalista diplomado. E com muito orgulho!
Comentários
:*
E por essa e outras que convido para participar do 6º Congresso Brasileiro de Trânsito e Vida, que acontecerá na cidade de Fortaleza no periodo de 12 a 14 de agosto de 2009.
Grande abraço
Mário Conceição
www.transitoevida.com.br
Quanto a questão do Detran, isso se aplica a maioria dos orgãos públicos e autarquias. Outra temática que daria uma equação matemática impossível de ser resolucionada,ou pegamos o papel, rasgamos e começamos do zero, ou tentaremos até 2100 e não chegaremos no resultado final.
Quanto ao amigo do DETRAN que respondeu, espero que esse congresso seja de mais valia, para tentar amenizar os danos causados a população, e não mais um movimento com "investimentos" maiores que a nossa realidade.
[]s
Eduardo Muller
abs amigo Álvaro e parabéns pela reflexão.
O de jornalista já era
É meu amor, pelo visto ter seis filhos só indo morar na Europa...kkkkkkkkkk
Ótimo texto, meu bem!
Tiamo
Quanto a ser médico do Detran considero uma idéia nota 10, aí Anderson Ribeiro, poderemos ir ao New Hakata todos os dias. kkkkk. Tiago eles dizem sempre que é ou virose ou gaes, tenho direto. kkkkkkkkkkkkk
PS: Eu nao sou medico do detran, sou um jornalista de bem com minha profissao.