Tudo sobre minha mãe
Minha mãe sempre foi professora pública. Nasceu pra isso e assim morrerá. Aos sessenta e poucos anos – confesso não saber ao certo –, trabalha manhã, tarde e noite pra sustentar sua casa em Alagoinhas. Fazer o quê? Em um país de eleitores semi-analfabetos de cabresto, ser professor é padecer no paraíso da corrupção. E ganhando mal pra caralho. Hoje, quase dez anos após sair de casa e com um canudo de jornalista guardado não sei onde, sinto-me como minha mãe. Neste Bunda-Brasil de índice pífio de leitura e do resumo das novelas que o povo lê e, sabe-se lá como, ainda se emociona no dia seguinte, mesmo já sabendo o final – eu também preciso ralar os três turnos para pagar as minhas contas. Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todas as dívidas do mundo . E tão somente por ter resolvido abraçar uma profissão que atende ao interesse público, e não ao interesse do público. Mexer a bunda custa caro; escrever sobre política, economia, segurança ...